segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O POEMA SEGUNDO MÁRIO QUINTANA

Vejamos como ele definiu o que é POEMA:

O POEMA

O poema é um objeto súbito
Os outros objetos já existiam




O poema de Mário Quintana denominado “O POEMA” é, sem dúvida, um fenômeno da imaginação humana.
Quintana deveria ter feito uma pagina, um artigo, uma antologia poética ou uma enciclopédia para conceituar o que seria um poema. Mas não. Em duas linhas ou em dois versos, com onze palavras, definiu o que é um poema.
“Christopher Fly, de certa feita, escreveu “A poesia é a linguagem em que o homem explora seu próprio espanto”, para a tradução inglesa “Poetry is the language in which man explores his own amazement”.
Pois bem, as expressões “poema e poesia” estão dentro de uma mesma acepção: o poema é uma obra em verso ou não, em que há poesia, também uma composição poética com certa extensão e enredo definido. Caracteriza como tal definição pela forma mais longa que a poesia. Por sua vez, a poesia, também, é uma composição criada em torno de combinações de sons, ritmos e significados, elevando-se numa linguagem que sugere emoções, criações de imagem e toca a sensibilidade do leitor.
A imaginação de Quintana para definir o que seria poema, formadas pelas expressões “objeto súbito”, remete-se dizer tudo aquilo que o homem sonha ou aparece repetino, subitâneo. Tomando isoladamente a palavra “objeto” como seja tudo aquilo que é perceptível por qualquer dos sentidos, também pode significar “coisa”, que é tudo aquilo que existe independente da vontade do homem. No entanto, observa-se que o adjetivo “súbito” modifica o sentido de “objeto”, para revelar que é um objeto, mas distante do alcance do homem.
Podemos dizer ainda que o poeta se confunde com poema e poesia. O poeta diz aquilo que ele não diria a ninguém, diz, numa poesia. Ele é a alma, o espelho do coração. A esse respeito escrevi:
ESPELHO DO CORAÇÃO
O poeta é um homem que se lembra da alma
E esquece-se duma porção de outras coisas.
Assim como o religioso lembra-se da calma,
Ele se lembra de tudo o que está por dentro.
Despreza o corpo, revela o sentimento,
Pondo o espírito pelo lado de fora.
E como este não tem afeição,
Espelha amor pelo coração
Em muitas manhãs sem aurora.

Não vagueia tão solitário,
Porque a solidão é sua companhia.
Se for dia, faz noite – se noite, faz dia.
E em outro mundo o poeta vê seu diário
Como uma fonte que o amor deságua
Sua pena corre através das palavras,
Rasgando altares que existem por aqui,
Todas as águas que por sua cabeça passam
São lacunas preenchidas pelo sentir.
(Juarez, in Poesias)
 
O segundo verso do poema “Os outros objetos já existiam” é fácil de identificar, pois, retirando-se tudo aquilo que é objeto súbito, é objeto que já existe, existia ou existirá. Os objetos, nestes tempos, são palpáveis, visíveis ou degustados. Pouca têm importância para o poeta, porque todos têm acesso  e se alcança com ou sem relativa facilidade.
Finalmente, observa-se que o assunto central do poema é “outros objetos” e o que se afirma deles é que os outros objetos já existiam. Para o primeiro, isto é, objeto súbito, muito relevante para o poeta; no segundo verso, “ os que já existiam” não há tanta importância assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário