sexta-feira, 12 de novembro de 2010

EM LIBERDADE

1. BIOGRAFIA DO AUTOR: Nasceu em Formiga, no Estado de Minas Gerais 1936. Hoje vive no Rio de Janeiro. Silviano Santiago é professor universitário, tornou-se romancista, poeta, contista, ensaísta, crítico etc. Tem, entre outras formas de vida, aquilo que o ser humano pode alcançar: trabalho, anseios e, como poucos, observa a natureza humana e apropriar-se desta para desvendar história.

3. SOBRE A HISTÓRIA DO LIVRO. Em liberdade é um exemplo de encontro entre a Literatura e História. É um romance de ficção em forma de diário. E há uma importância muito grande do que a história nos pode proporcionar, qual processo que ela vai desvendar os fatos e estes de maneira positiva para que conheçamos a verdade e possamos estabelecer o desenvolvimento social humano. Estabelecer a verdade não é uma coisa tão simples. E colocar à tona o processo de desenvolvimento humano, muito menos. Pois, muitas verdades são transitórias, escondidas, omitidas e evidenciadas dentro de tantas possibilidades que só um historiador pode trazer à lume e, daí, encontrar a fórmula(ou quase a fórmula)   do universo viver das pessoas e sociedade. A literatura vai registrar este universo de vida e fazer com que todos nós reflitamos as formas dela. Separá-la, excluí-la ou escolhê-la é o impulso que objetiva a literatura.
Para entender melhor o romance Em Liberdade, de Silviano Santiago, é preciso conhecer um pouco dos dois fatos de relevância para nossa Historia nacional. A morte, apresentada como suicídio, de Cláudio Manoel da Costa, em 4 de junho de 1789, e a do jornalista Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975, ambos encontrados enforcados no interior das celas em que estavam presos.
A vida de Cláudio Manoel da Costa revela-nos um prejuízo para o tempo e para sociedade dominadora. Sua vida assim se definiu: poeta brasileiro, autor de Vila Rica, Munúsculo Métrico, Epicédio, Labirinto de Amor etc. Rico, ocupou vários cargos na administração, tinha grande prestigio político, implicado na Inconfidência Mineira, e participante de conversas imprudentes. Talvez pelo perfil que tinha, foi metido num cárcere, onde foi encontrado morto.
Já a vida de Vladimir Herzog, jornalista comunista, militante político do PCB, evidencia famosa por precipitar o repúdio da opinião publica à ditadura militar. As fontes sobre ele são, além de provas e testemunhas, a própria imprensas da época e período subseqüente, que incluive publicam documentos oficiais, ao final revelados como frases grosseiras.
Qual a relação da morte do poeta e a do jornalista com o romance – podíamos indagar. Em relação ao tempo, nada – seria a resposta. Mas, como argumentamos acima, tudo é relevante quando os pontos obscuros de nossa história vão cair na literatura como forma de reflexão e desvendamento do que foi a sociedade do passado e, assim, servindo dela para relacionar ao presente.
No romance Em liberdade, de Silviano Santiago tornar-se personagem depositaria (a quem algo é confiado) de um diário de Graciliano Ramos. Este diário de reflexões da personagem Graciliano Ramos sobre a ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas (que encarcerou o verdadeiro Graciliano Ramos), de pensamentos íntimos, de apontamentos sobre a literatura, sobre relações com outros escritores e editores, e de um projeto de pesquisa que, em resumo, visa estabelecer se o poeta Cláudio Manoel da Costa suicidou-se ou foi assassinado. Na ocasião em que a personagem Silviano Santiago decide publicar o diário, a personagem Graciliano Ramos (autor do fictício diário) é já falecido há vinte anos.
Para não confundirmos pessoa, autor e personagem, podemos assim separá-las:
1º. Pessoa – Silviano Santiago, escritor e dados biográficos. Graciliano Ramos, diz-se que era bravo, escritor e dados biográficos. Cláudio Manoel da Costa, poeta e dados biográficos.

2º.  Escritor (autor) –  autor concreto do texto, por exemplo: Silviano Santiago.

3º. Personagem – o que conta é a participação no enredo, por exemplo: no romance Em Liberdade: uma ficção de Silviano Santiago, o Silviano Santiago em questão não é nem a pessoa nem o autor: é uma invenção, uma personagem de ficção que poderia, inclusive, ter outro nome. Como personagem inventada, Silviano Santiago será neste romance especifico, o editor do, também inventado, diário de Graciliano Ramos.
            O romance Em Liberdade é de autoria de Silviano Santiago, escritor/autor, que, para esclarecer ao leitor de que se trata de uma fantasia, incluindo, no titulo: uma ficção de Silviano Santiago. O autor, inventor uma ficção, um enredo, com destaque para duas personagens:
1. uma principal, chamada Graciliano Ramos;
2. e uma secundária, chamada também Silviano Santiago.

No enredo do diário, há várias personagens. As duas mais importantes são o próprio Graciliano Ramos, tornando personagem-pesquisadora, e o poeta Cláudio Manoel da Costa, que será investigado, por ocasião de sua morte. Há comparações reflexivas da morte de Cláudio Manoel da Costa, muito parecidas com a que foram feitas pela imprensa, quando do assassinato, sob tortura, do jornalista Vladimir Herzog, em 1975. Daí, talvez, o autor queira perguntar que fatos evidentes de nossa história serviram-nos de lição, ante e agora (em 1975). O conhecimento da História é absolutamente necessário, porque os contatos entre ela e a literatura existem, mas raramente são evidentes. Vladimir Herzog, homem com este, faltou traçar o retrato psicológico, pois era maduro, estável, firme e responsável, e não se suicida depois de tão breve interrogatório. 
Assim, o enredo ocorre em volta de um crime real, uma verdadeira autópsia literária, onde se pode comparar, através da leitura, as reflexões descritivas da personagem de Graciliano Ramos, sobre o poeta inconfidente, e as da imprensa, sobre a morte do jornalista comunista. Não se deixa dúvida de que Silviano Santiago empregou uma verdade histórica sabida (comprovou-se que Vladimir Herzog foi assassinado sob tortura) para pôr em questão uma duvida histórica: a morte do poeta na prisão.
 O diário começa a ser escrito no dia 14 de janeiro de 1937, com temática própria de corrente literária de quem retrata as reais condições sociais do Brasil, há indícios de que o romance busca completar último capítulo que faltava em Memória do Cárcere, de Graciliano Ramos, como informou o filho deste, Ricardo Ramos.
            Santiago consegue momento na literatura incorporar o estilo característico de Graciliano na forma de pastiche da literatura brasileira para empreender certa reflexão sobre o papel do escritor diante da sociedade. Em Liberdade foi escrito antes da Segunda Guerra Mundial, durante a ditadura de Getulio Vargas, que coincide com a saída de Graciliano Ramos da cadeia. Sua liberdade parecia inútil, uma vez que fora da prisão o clima não era de sentimento de liberdade. Baudelaire é o mais citado no Romance de Silviano Santiago, com efeito, de mostrar as armadilhas que denunciavam os versos do escritor francês, como se quisesse denunciar o que havia de segredos na liberdade após a prisão.
Enfim, a preocupação de Silviano Santiago, como qualquer romancista, foi narrar uma historia de modo a entrelaçar o destino das personagens com as específicas condições sociais e econômicas no meio em que vive. Busca ser fiel à linguagem oral das personagens e, nas descrições, acentuar a importância que têm os elementos do meio social para o modo de vida das personagens e assim a obra representa um mergulho do escritor na alma humana com o propósito de desvendá-la.

Veja a historia do livro. Leia o romance.

                                     Comentários do professor Juarez com base na leitura do livro.

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